| Edi��es Anteriores | Sala de Imprensa | Vers�o em PDF | Portal Unicamp | Assine o JU | Edi��o 349 - 26 de fevereiro a 4 de mar�o de 2007
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Estudo de Marcio Pochmann revela que o
Sudeste � hoje o maior p�lo de expuls�o de m�o-de-obra do pa�s

A nova geoeconomia do emprego

O professor M�rcio Pochmann: an�lise simult�nea da economia e do mercado de trabalho (Foto: Ant�nio Scarpinetti)A regi�o Sudeste deixou de ser o centro privilegiado do movimento migrat�rio, transformando-se atualmente no principal p�lo de expuls�o de m�o-de-obra do Brasil, al�m de registrar um dos piores indicadores da produ��o e do emprego no pa�s. Essas constata��es est�o na pesquisa "Nova geoeconomia do emprego no Brasil: um balan�o de 15 anos nos Estados da federa��o", coordenada pelo economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia (IE) e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp.

Em quatro anos, 215 mil deixaram o Sudeste

De acordo com a pesquisa, o protagonismo de S�o Paulo e de Estados vizinhos � sobretudo Rio de Janeiro e Minas Gerais � � hoje desempenhado pelas regi�es Centro-Oeste e Norte, onde est�o as �reas de fronteira agropecu�ria e de extrativismo mineral. Os novos Estados l�deres � Amazonas, Mato Grosso e Goi�s � frente � det�m os melhores resultados na evolu��o do PIB, e conseq�entemente, a maior absor��o de migrantes de todo o pa�s.

Pochmann revela que o estudo, de �mbito nacional, buscava interpretar algumas hip�teses formuladas no Brasil ao longo da d�cada de 1990. Uma das mais recorrentes dava conta de que os empregos n�o estavam mais nas metr�poles, mas sim nas pequenas e nas m�dias cidades. Para fundamentar a pesquisa, foram utilizadas fontes prim�rias de informa��es, todas oficiais, que constam de levantamentos feitos pelo IBGE entre os anos de 1990 e 2005, tanto no que diz respeito � popula��o como ao comportamento do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados. "A investiga��o tratou de analisar, de forma simult�nea, o mercado de trabalho e a economia dos Estados nas cinco grandes regi�es", revela o economista.

A pesquisa mostra que, com a crise da d�vida externa [in�cio da d�cada de 1980], "o Brasil passou a dar sinais de abandono do longo ciclo de r�pida expans�o econ�mica, que era acompanhado pelo movimento de estrutura��o do mercado de trabalho". De acordo com o documento formulado por Pochmann e sua equipe, "o que se verifica nos �ltimos 25 anos corresponde � fase de semi-estagna��o econ�mica, simultaneamente perseguida do movimento de desestrutura��o do mercado de trabalho". Para exemplificar, Pochmann revela n�meros emblem�ticos: entre os anos de 1990 e 2005, o PIB brasileiro cresceu somente 2,41% (m�dia anual), enquanto a expans�o m�dia anual da Popula��o Economicamente Ativa (PEA) foi de 2,76%.

De descompasso em descompasso, a estagna��o respingou no chamado padr�o migrat�rio nacional. O estudo mostra que, durante os primeiros quatro anos da d�cada de 2000, o saldo l�quido entre sa�das e entradas de migrantes foi negativo em mais de 215 mil pessoas no Sudeste, enquanto no per�odo imediatamente anterior havia sido positivo � na casa de quase meio milh�o de migrantes.

O coordenador da pesquisa observa que a d�b�cle dos Estados do Sudeste � a principal constata��o do estudo. Raz�es hist�ricas e econ�micas corroboram a import�ncia dos n�meros recentes. Conforme lembra Pochmann, S�o Paulo foi, ao longo do s�culo XX, sobretudo entre as d�cadas de 1930 e 1980, "o estado-locomotiva" do Brasil. Esse crescimento, analisa Pochmann, era diretamente respons�vel pela integra��o nacional e, em �ltima inst�ncia, pelo desenvolvimento das demais regi�es do pa�s. "Ainda que fosse um crescimento fundamentado numa industrializa��o concentrada, aquilo que se organizou em S�o Paulo de uma certa maneira supria o mercado nacional", avalia Pochmann.

Em raz�o desse crescimento r�pido, S�o Paulo protagonizou a expans�o e a estrutura��o do mercado de trabalho, com base no assalariamento, no baixo desemprego e na forte capacidade de absor��o do movimento migrat�rio. "Tivemos gente de todos os Estados vindo para c� em busca de oportunidades, o que possibilitou a expans�o da classe m�dia, uma das caracter�sticas de S�o Paulo".

Sup�e-se que esse estado de coisas tenha come�ado a mudar a partir da d�cada de 1980. O que o estudo faz � provar que, j� a partir de meados da d�cada de 1990, as mudan�as consolidaram-se. "Os Estados que protagonizaram a expans�o econ�mica, no per�odo anterior, encontram-se atualmente nos �ltimos vag�es", constata Pochmann.

O Rio de Janeiro, por exemplo, � o Estado com menor ritmo de expans�o econ�mica no per�odo compreendido entre 1990 e 2005. S�o Paulo vem em seguida, com o segundo pior desempenho econ�mico. "Enquanto Estados como Amazonas e Mato Grosso v�m crescendo a um ritmo de expans�o chinesa, de 7% a 8% ao ano, S�o Paulo e Rio crescem a um ritmo haitiano, menos de 2% ao ano, m�dia inclusive inferior � brasileira", revela Pochmann.

A baixa expans�o da atividade econ�mica gerou a desestrutura��o do mercado de trabalho. A regi�o Sudeste, particularmente S�o Paulo, registrou um forte movimento de expuls�o de m�o-de-obra, especialmente aquela desempregada. "Em sua maioria, s�o nordestinos que voltaram �s suas cidades de origem ou se dirigiram �queles Estados que hoje lideram o crescimento econ�mico, sobretudo Amazonas e Mato Grosso", constata Pochmann.

Paradoxo - Mas essa descentraliza��o n�o � boa para o pa�s? Poderia, mas os resultados est�o aqu�m do desejado. A come�ar de outra constata��o � contradit�ria, � primeira vista - da pesquisa: os Estados que tiveram maior crescimento econ�mico s�o, tamb�m, aqueles em que o desemprego mais cresceu. As raz�es n�o s�o poucas, mas algumas, segundo Pochmann, saltam aos olhos.

Segundo o professor do IE, a expans�o econ�mica das regi�es Centro-Oeste e Norte est� vinculada � produ��o de baixo valor agregado e de pouco conte�do tecnol�gico. S�o produtos prim�rios ou derivados do extrativismo mineral, normalmente vinculados � produ��o de alimentos ou � pecu�ria. "S�o, de fato, fronteiras. Mas, apesar do importante impacto no mercado de trabalho, s�o incapazes de dar emprego para os habitantes locais e, sobretudo, para os migrantes que v�o em busca de melhores oportunidades", constata.

Duas s�o as raz�es principais para a origem dessa distor��o, explica Pochmann. A primeira, em particular, est� relacionada ao fato de a m�o-de-obra ser pouco intensiva, ao contr�rio da industrializa��o. "Essa m�o-de-obra n�o est� vinculada � industrializa��o, ao setor de servi�os e � fronteira tecnol�gica de �ltima gera��o". Em segundo lugar, porque se trata de um tipo de expans�o econ�mica que n�o "puxa" o crescimento do pa�s. "S�o atividades fortemente vinculadas �s exporta��es, como � o caso da soja. Essas regi�es s�o, de uma certa forma, reflexo do que ocorre na economia internacional. O crescimento da atividade econ�mica d�-se apenas localmente. Do ponto de vista da renda, o efeito de contamina��o � m�nimo". Dessa maneira, observa Pochmann, o que faz do Mato Grosso um Estado rico n�o � o fato de produzir soja, mas sim o de ter um comprador estrangeiro disposto a adquirir o produto.

Na realidade, avalia Pochmann, o que h� � um quadro de uma "certa fragmenta��o" do espa�o nacional, na medida em que n�o � totalmente verdadeira a tese de que exista descentraliza��o e homogeneidade do mercado de trabalho. Al�m de n�o conseguir absorver a totalidade da m�o-de-obra, esses novos centros de expans�o econ�mica n�o disp�em, de forma significativa, de postos de trabalho para a gera��o de empregos para a classe m�dia, em raz�o dos motivos explicitados pelo pesquisador. "S�o, em geral, empregos de um sal�rio m�nimo".

Ademais, lembra Pochmann, esse novo padr�o migrat�rio � diferente daquele registrado com mais intensidade na d�cada de 1970, quando predominava, nos estados do Sudeste, a chegada de trabalhadores de baixa escolaridade oriundos da zona rural, que disputavam vagas em postos de trabalho mais simples. "Nos dias de hoje, verificamos que esse movimento migrat�rio se d� sob um perfil de outra natureza, ou seja, trata-se de uma migra��o urbana, de cidade para a cidade, e n�o mais do campo para a cidade".

Essa nova legi�o, explica Pochmann, � formada tamb�m por profissionais de maior escolaridade e com alguma experi�ncia profissional, que disputam um lugar ao sol num n�vel de trabalho intermedi�rio e/ou superior. Ocorre, ent�o, uma press�o por vagas de trabalho de classe m�dia. A realidade, por�m, fala mais alto. "As vagas s�o insuficientes para dar conta de uma sociedade relativamente estratificada em que a mobilidade social � a principal refer�ncia. Mais de 90% das vagas abertas s�o de at� dois sal�rios m�nimo mensais. Na verdade, estamos construindo uma sociedade polarizada entre ricos e pobres", diagnostica Pochmann.

Embora acredite que sejam fact�veis as a��es que visem o desenvolvimento de pol�ticas de enriquecimento e de valoriza��o da cadeia produtiva local, o pesquisador prega que a sa�da para o impasse est� na formula��o de uma pol�tica nacional de desenvolvimento regional. Nesse sentido, avalia Pochmann, o Plano de Acelera��o Econ�mica (PAC), rec�m-anunciado pelo governo federal, pode oferecer algumas solu��es, embora ainda esteja longe de ser um "projeto encorpado".

"Pelo menos � a primeira vez, desde o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento [PND, criado no governo Geisel], que a quest�o do desenvolvimento regional � recolocada na mesa, ainda que seja a partir de uma lista de obras a serem feitas", observa o economista.

Na opini�o de Pochmann, torna-se urgente a implanta��o de medidas que estanquem essas distor��es. O professor do IE lembra que o Brasil deixou de ser um pa�s que recebia imigrantes para ser um "exportador" de m�o-de-obra, especialmente a qualificada. Estima-se que entre 140 mil e 160 mil pessoas deixem o pa�s a cada ano. "� a tal fuga de c�rebros. Trata-se de um paradoxo num pa�s de baixa escolaridade. Justamente aquele segmento mais qualificado, que mais se esfor�ou para conseguir seus objetivos, n�o encontra uma coloca��o".

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