domingo, 27 de abril de 2025

FRAGATA NRP BARTOLOMEU DIAS DE PARTIDA PARA MISSÃO NATO

Lynx Mk.95A da EHM          Foto: CAB E Rafael

A fragata da Marinha Portuguesa, NRP Bartolomeu Dias, vai partir amanhã, 28 de abril de 2025, em missão NATO, durante a qual integrará a European Carrier Group Interoperability Initiative (ECGII), juntando-se ao grupo de combate do porta-aviões da Royal Navy, HMS Prince of Wales, bem como à Força Naval Permanente da Aliança Atlântica Standing, NATO Maritime Group 1 (SNMG1)

Fragata NRP Bartolomeu Dias        Foto: Marinha Portuguesa

Está prevista ainda participação nos exercícios NEPTUNE STRIKE 25.1 e MED STRIKE 25, que visam o treino e certificação das forças navais da NATO, assim como o aperfeiçoamento da interoperabilidade entre estas forças navais e a implementação dos mais recentes conceitos e doutrinas de operações navais.

Foto: 1Sar ETC Neves Rodrigues

Após completar a participação na missão HIGHMAST, a fragata NRP Bartolomeu Dias irá integrar a SNMG1, que se constitui como parte integrante das Standing Naval Forces, que apoiam a componente naval da Allied Reaction Force, força conjunta de elevada prontidão da NATO, de forma a participar na Operação Brilliant Shield, que visa dar resposta ao contexto securitário envolvente, bem como promover a vigilância, e reforçar a dissuasão e a capacidade de defesa da Aliança Atlântica.

Lynx Mk.95A armado com torpedo Mk.46      Foto: 1Sar. ETC Neves Rodrigues

A bordo do NRP Bartolomeu Dias irá embarcado o destacamento "Haddock" da Esquadrilha de Helicópteros da Marinha (EHM), com um helicóptero Lynx Mk.95A.

Foto: 1Sar ETC Neves Rodrigues

O destacamento "Haddock" é o 28º da EHM e o segundo com a versão modernizada Lynx Mk.95A (sucedendo ao "Frankie").  O "Haddock" foi ativado em janeiro de 2024 e desde essa altura participou em exercícios nacionais e no Operational Sea Training do NRP D. Francisco de Almeida, no Reino Unido, em 2024.

Foto: SAJ T. Palma Candeias

Foto: SAJ T. Palma Candeias

Foto: SAJ T. Palma Candeias

Foto: 1Sar ETC Neves Rodrigues

Foto: CAB U Mota da Silva

O regresso à Base Naval de Lisboa está previsto para o dia 22 de agosto de 2025.


sábado, 26 de abril de 2025

Conflito nuclear NATO vs Pacto de Varsóvia – Tácticas e Dilemas [M2607 - 31/2025 ]

Derrota convencional ou resposta nuclear?

Desde a sua fundação a NATO confiou em armas nucleares como dissuasão face ao avassalador poderio convencional soviético.  A primeira resposta nuclear foi assegurada por 32 bombardeiros B-29 Superfortress do SAC (Strategic Air Command) em bases na Inglaterra no verão de 1949.  Desde então, várias doutrinas de uso foram implementadas, descartadas, repensadas ou substituídas, desde “retaliação maciça” a “resposta flexível”, potenciadas por alterações políticas e/ou desenvolvimentos tecnológicos.  O conflito na Ucrânia voltou a despertar medos, e muitos dos mesmos dilemas quanto ao emprego de armas nucleares, por isso, poderá ser útil relembrar, de forma breve e telegráfica, alguns dos problemas e desafios envolvidos em vencer uma guerra onde o inimigo, segundo algumas opiniões, é a própria guerra...   

A superioridade material do Pacto de Varsóvia em termos de tanques, artilharia e infantaria mecanizada era inalcançável para as forças convencionais da NATO.  Não era por acaso que os russos mantinham a confiança de alcançar o rio Reno em 7 dias.   

Se recuarmos aos finais dos anos 60 e princípios dos anos 70, as opções nucleares na Europa abrangiam 3 categorias essenciais; 
- Curto-alcance (até 200km); projécteis de artilharia de tubo, alguns tipos de foguetes e mísseis (como o Lance americano ou FROG russo) e aviação táctica (principalmente pelo lado da NATO).
- Médio-alcance (até 1000km); mísseis como o poderoso SS-12 Scaleboard russo ou a aviação de interdição da NATO armada com bombas de gravidade em missões “só de ida”.
- Longo-alcance (mais de 1000km - por vezes referidas como armas “Euroestratégicas”); envolviam mísseis balísticos lançados de submarinos no Mar do Norte ou Mediterrâneo até IRBMs como os SS-4 Sandal e SS-5 Skean.

Uma das primeiras questões a considerar é a custódia das armas.  No Pacto de Varsóvia as armas nucleares, armazenadas em território Russo, Polaco ou na Alemanha Oriental, eram controladas pela União Soviética.  Ponto.  Na NATO as coisas eram (e continuam a ser) um pouco mais… complicadas.  Um dos esquemas era conhecido como controlo de “chave dupla” (dual key).  Neste conceito, a propriedade das ogivas permanece sob autoridade americana mas o mecanismo de disparo, seja uma peça de artilharia, míssil ou aeronave, recai sob a nação anfitriã.  Acordos bilaterais deste tipo existiram com o Reino Unido, Alemanha Ocidental, Itália e outros.  Outro problema mais agudo envolvia o “timing” do uso dessas armas.  Se a União Soviética decidisse “aquecer” a guerra fria e soltasse, em massa, as suas forças blindadas e mecanizas nas planícies da Alemanha, a NATO iria se defender, numa primeira fase, também com meios convencionais.  Daí a presença de substanciais formações blindadas na Alemanha (desde o BAOR inglês até ao 3º Corpo de Exército Americano).  Mas se essa resposta convencional falhasse ou não fosse suficiente, armas nucleares tácticas seriam usadas para neutralizar as vanguardas Soviéticas ou atrasá-las o suficiente até que os reforços americanos pudessem ser deslocados para o teatro.

A estratégia convencional da NATO assentava na defesa e contenção das linhas durante o maior período de tempo possível enquanto aguardavam por reforços americanos.  O primeiro embate russo poderia (talvez) ser contido mas as grandes reservas da segunda linha dificilmente seriam detidas.  A questão não era “se” a NATO iria recorrer a armas nucleares mas quanto tempo demorariam a fazê-lo.


No exercício Wintex em 1983, que replicava um ataque russo deste género, a NATO foi forçada a usar armas nucleares logo no sexto dia.  Mas a natureza crítica dessa escalada – a NATO seria a primeira a recorrer ao nuclear – exige uma estrutura de comando e controlo com processos e procedimentos consultivos com as várias nações.  Além disso, as características de curto alcance destas armas tácticas exigem a sua localização avançada, relativamente perto das linhas da frente, o que adiciona mais problemas a esta já muito complexa equação.  Teoricamente, todas as nações da NATO deveriam ser consultadas quanto ao uso de armas nucleares, pelos menos, quanto ao decisivo “first strike” mas, na prática, as coisas, inevitavelmente, poderiam decorrer de forma diferente.  Vamos pensar num exemplo.  Uma divisão blindada americana, 20km a Norte de Frankfurt, está prestes a ser flanqueada por várias formações russas e pede, urgentemente, um ataque de artilharia nuclear para deter os tanques inimigos.  Esse pedido terá de seguir toda a cadeia de comando; primeiro para o Corpo de Exército correspondente e depois para o…

CENTAG (Central Army Group),
AFCENT (Allied Forces Central Europe),
SHAPE (Supreme Headquarters Allied Powers Europe) e
SACEUR (Supreme Allied Commander Europe).

Daqui o pedido seria direccionado para Comando Nacional Americano e para o Presidente, que teria de decidir, junto com os Chefes do Estado Maior e depois de (tentar) consultar o Chanceler Alemão  - afinal a explosão nuclear seria no seu “quintal”.  Toda esta operação poderia levar 24 horas, sem contar com a confusão, caos e dificuldades de comunicação próprias em tempo de guerra.  Enquanto isso, os soldados da divisão americana esperavam sentados… provavelmente num campo de prisioneiros de guerra soviético.

Este seria um dos cenários da NATO para o uso defensivo de armas nucleares.  O próximo passo seria usar armas de médio alcance para atacar as reservas, bases aéreas e centros de comando russos – seja em resposta a ataques inimigos ou pela pressão militar esmagadora.  Isto coloca a NATO na ofensiva.  Mas a questão agora seria; qual seria a resposta soviética?...

Nesta foto vemos dois oficiais, um americano e outro inglês, a armar a ogiva (de treino, claro) de um míssil táctico Lance.  O conceito de “dual key”, com efeito, um sistema electrónico e mecânico de segurança, prevenia o uso não autorizado por indivíduos “dementes ou aberrantes”, citando a documentação oficial.  Este sistema também garantia a coordenação e cooperação política e militar entre as duas nações.  Será que funcionaria na prática?

Talvez as primeiras armas nucleares a ser usadas pela NATO; projécteis como os M422 de 203mm para peças de artilharia M110.  Com um alcance entre os 15-20km, rendimento de 10-20kt, altamente manobráveis no campo de batalha e de resposta rápida, armas como estas seriam o “gatilho” psicológico para as tropas na linha da frente caso a pressão das forças russas fosse demasiado forte para suportar.  Mas a decisão para o seu uso não seria determinado por essas tropas mas sim por uma série de escalões de comando superiores.


Texto e seleção de imagens: Icterio
Edição: Pássaro de Ferro


sexta-feira, 25 de abril de 2025

CEMFA CONFIRMA INTENÇÃO PARA A AQUISIÇÃO DO F-35 [M2606 - 30/2025 ]

F-35A Lightning II

Portugal poderá dar um passo decisivo para a modernização da sua Força Aérea, se avançar com a  intenção de adquirir o caça norte-americano de quinta geração, F-35 Lightning II, tido como o mais indicado sucessor da sua frota de F-16 Fighting Falcon, que já ultrapassou os trinta anos de operação. O General João Cartaxo Alves, Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), pronunciou-se sobre o tema durante a Conferência de Defesa Nacional Portuguesa, realizada no passado dia 22 de abril de 2025 na Academia Militar, na Amadora.

O General CEMFA integrou o painel “O que temos – capacitação do sistema de forças”, juntamente com o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e os Chefes dos Estados-Maiores do Exército e da Armada, na iniciativa promovida pelo Diário de Notícias. Durante a intervenção, destacou dois eixos fundamentais para o futuro das Forças Armadas: o reforço do efetivo e a modernização de capacidades.

Relativamente à substituição dos F-16M, atento ao espaço geostratégico relevante para Portugal onde o Atlântico se insere e que não pode ser descurado, conjugado com a transformação na plenitude para uma nova Força Aérea, explicou “ser imperioso que a próxima aeronave de defesa aérea seja de 5.ª geração”, o que “no quadro das aeronaves disponíveis, apenas uma cumpre atualmente esse requisito, o F-35”.

A conferência contou também com intervenções do Ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo - que em março passado revelou estar a ponderar alternativas europeias para substituir a frota F-16 da FAP - bem como do ex-Primeiro Ministro Durão Barroso e de vários especialistas das áreas da segurança, defesa e relações internacionais.



quarta-feira, 23 de abril de 2025

EXERCÍCIO REMOTE EYES 25 MOBILIZA DRONES PORTUGUESES E ESPANHÓIS [M2605 - 29/2025 ]

Drone Ogassa OGS-42N da FAP              Imagem de arquivo
 

O Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea (antiga Base Aérea nº2 na Ota), que reativou o Grupo Operacional 21, desde que passou a basear a Esquadra 991 - "Harpias", divulgou imagens do exercício Remote Eyes 2025, realizado no passado dia 8 do corrente mês de abril.

PQ-9 Predator do EdA           Foto via CFMTFA

Trata-se do primeiro exercício conjunto entre a Esquadra 991 da Força Aérea Portuguesa (FAP) e a Ala 23 – do Ejército del Aire y del Espacio (EdA) espanhol, envolvendo as respetivas aeronaves remotamente tripuladas (aka drones) que as equipam: OGS-42N (Ogassa), da FAP e MQ-9 (Predator-B) do EdA, com capacidades avançadas de Intelligence, Surveillance and Reconnaissance (ISR - Informação, Vigilância e Reconhecimento).

Durante o exercício praticaram-se procedimentos de Comando e Controlo de RPA, assim como a respetiva transferência e partilha de imagens, em tempo real, para atuação dos centros de decisão de ambos os países.


O exercício desenrolou-se na zona centro de Portugal, com enfoque na passagem transfronteiriça de atividades ilícitas. 

As aeronaves acompanharam, durante 2 horas e 30 minutos, os suspeitos de tráfico de estupefacientes, através das câmaras de alta-definição, recolhendo os detalhes para a apreensão dos infratores.  

Imagens captadas pelos drones          Fotos via CFMTFA

Este foi assim um passo importante para a operação conjunta de Portugal e Espanha com drones.



terça-feira, 15 de abril de 2025

BLACK HAWK NA SERRA DA ESTRELA EM TREINO PARA OS INCÊNDIOS [M2604 - 28/2025 ]

 

Na semana de 7 de abril a Esquadra 551 - Panteras destacou dois dos seus helicópteros UH-60A Black Hawk para o aeródromo de Seia, com o intuito de realizar treino de combate direto a incêndios, em condições de montanha.

O Santiago Anacleto esteve lá e registou a atividade, nas fotos que aqui hoje partilhamos.













Fotos: Santiago Anacleto

segunda-feira, 14 de abril de 2025

EXERCÍCIO BAMBARI 25 DE APRONTAMENTO PARA A RCA [M2603 - 27/2025 ]

AW119 Koala da Esquadra 552 - Zangões da FAP no exercício Bambari 25 do Exército

Entre os dias 7 e 11 de abril de 2025, o Exército Português realizou o Exercício BAMBARI 25 no Campo Militar de Santa Margarida, como parte da preparação da 17.ª Força Nacional Destacada (17.ª FND) que será projetada para a República Centro-Africana (RCA). Esta força será integrada como Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force – QRF) na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA).



A 17.ª FND será composta por 213 militares, dos quais 201 participaram nesta fase de aprontamento. A força é comandada pelo Tenente-Coronel Rui Borges e tem como núcleo central o 2.º Batalhão de Infantaria Paraquedista (2.º BIPara), ao qual se juntam vários módulos especializados:

Módulo Pandur, com viaturas blindadas PANDUR II com Remote Weapon Station (RWS);

Módulo de Manutenção, assegurando o apoio técnico e logístico;

Módulo Sanitário, preparado para resposta médica em ambiente operacional;

Equipa de Route Clearance (EOD), especializada em deteção e neutralização de engenhos explosivos improvisados (IEDs);

Equipa mini-UAV, operando o sistema Raven, uma aeronave não tripulada de pequenas dimensões que permite missões de vigilância, reconhecimento, regulação de fogos e avaliação de danos de combate (Battle Damage Assessment).

Equipa TACP (Tactical Air Control Party) da Força Aérea Portuguesa, encarregue de coordenar o apoio aéreo próximo e comunicações com plataformas aéreas, reforçando a interoperabilidade entre ramos e a capacidade de resposta conjunta.



Durante cinco dias de intensa atividade, os militares realizaram uma série de manobras táticas e técnicas desenhadas para replicar ao máximo as condições operacionais que enfrentarão na RCA.

Foram conduzidos vários incidentes simulados com base em situações reais vividas pelas FNDs anteriores no Teatro de Operações. As manobras incluíram:

Reações a emboscadas;

Proteção de civis e zonas críticas;

Evacuação de feridos em ambiente hostil;

Operações de patrulhamento e interdição de áreas;

Outras.

O exercício teve como principal foco a prontidão operacional em ambiente hostil, e permitiu testar procedimentos, reforçar a disciplina operacional e treinar a tomada de decisões em cenários de elevada pressão — elementos-chave para assegurar a eficácia de uma força QRF num ambiente de alto risco.

Live Fire com helicópteros e armamento pesado

Um dos pontos altos foi a realização de Live Fire Exercises (LFX), que incluíram cenários realistas de combate com fogo real, reforçando a eficácia dos procedimentos e a confiança nas armas e equipamentos utilizados.


Neste exercício houve a integração de um helicóptero AW119 Koala da Esquadra 552 "Zangões" da Força Aérea Portuguesa, que foi utilizado como plataforma para o heli shooting. Esta capacidade permitiu aos militares designados para funções de Top Cover (cobertura aérea próxima a forças em progressão no terreno) treinar disparos em voo com armas ligeiras, em coordenação com elementos terrestres — um cenário que poderá ter aplicação direta em missões reais na RCA.


Além disso, houve treino com diversos sistemas de armas utilizados em teatros de operações reais:

Carl-Gustav - uma arma de apoio direto, eficaz contra posições fortificadas ou veículos;

LAW (Light Anti-Tank Weapon) — armamento portátil de uso individual, ideal para operações rápidas e ligeiras;

Metralhadora pesada Browning M2 montada numa viatura PANDUR II com RWS (Remote Weapon Station), idêntica às que já operam na RCA, testando a integração de sensores, precisão e comando remoto.


Portugal e a MINUSCA: um compromisso contínuo com a paz

A participação de Portugal na MINUSCA representa um compromisso sólido e duradouro com as Nações Unidas e os seus esforços de estabilização em contextos de conflito. Desde 2017, as Forças Armadas Portuguesas têm mantido uma presença rotativa na RCA e os seus militares têm vindo a ser reconhecidos pela sua disciplina, capacidade de resposta e eficácia, características especialmente valorizadas numa força QRF, que pode ser chamada a intervir em situações críticas a qualquer momento.

Através da projeção de forças bem treinadas, altamente móveis e disciplinadas, Portugal contribui ativamente para a proteção de civis, o restabelecimento da ordem pública e o apoio à construção da paz num dos países mais instáveis do continente africano. Este envolvimento reforça não só o prestígio de Portugal no seio das Nações Unidas, como evidencia a sua capacidade de cumprir compromissos internacionais em missões de elevada exigência.

O sucesso do Exercício BAMBARI 25 confirma a capacidade expedicionária do Exército Português e a excelência dos seus paraquedistas, prontos para atuar num dos teatros de operações mais exigentes do mundo. A simulação com fogo real, o treino com helicópteros e a articulação entre ramos das Forças Armadas mostram que Portugal está, mais uma vez, preparado para cumprir a sua missão em nome da paz e da segurança internacional.


Texto e fotos: Santiago Anacleto

domingo, 6 de abril de 2025

FICÇÃO - "ÉPOCA DE CAÇA" (Parte II) [M2602 - 26/2025 ]

SU-33 - Imagem via Wikimedia Commons

Nota prévia: Este conto é obra de ficção e foi escrito em 2013. Qualquer semelhança com factos, pessoas ou situações é mera coincidência.

Ler  Parte I 

Algures sobre o Ártico (continuação)

Cavaleiros dos tempos modernos, os pilotos de caça controlavam equipamento de grande poder destrutivo. Tal facto fazia do seu treino um processo longo e penoso, de onde apenas os melhores emergiam para a vida operacional. No entanto continuavam a ser tão humanos como os civis que haviam jurado defender. E o ser humano é um animal sinistro.  
Subitamente um dos Su-33 saiu da formação, curvando para a direita, descrevendo um arco que o fez dar meia volta, passando a mil metros da asa do Gripen de Paulo. Ativara o seu radar em modo militar, varrendo ambos os caças da OTAN, procurando ângulos de ataque. Provavelmente estaria só a testar a paciência dos portugueses, a ver se cediam. 
E provavelmente Paulo não estaria num dos seus dias. Em vez de manter a cabeça fria, como seria o seu dever, empurrou instintivamente o manípulo de controlo da velocidade para diante, puxado por algum instinto ancestral. Acelerou furiosamente enquanto torcia o nariz da aeronave para a direita, descrevendo uma curva violenta que quase colocou o Gripen de cabeça para baixo. Passou a uma distância nada razoável da barriga do caça russo. 
Quando a dor no peito suavizou, e a visão se afastou do estreito túnel a que os nove Gs de carga de gravidade a haviam sujeitado, o jovem piloto procurou o seu adversário contra o céu que clareava rapidamente. Viu o Su-33 a curvar para cima, num arco suave, o piloto russo provavelmente a tentar perceber o que se passara. O radar continuava em modo militar e avisos sonoros ecoavam dentro do capacete de Paulo. Colocou também o seu radar em modo de combate, iluminando o Flanker com o poder de baixa frequência do potente sensor. 
O adversário reagiu curvando para a sua direita, apontando o nariz para o mar, numa descida veloz dos céus ainda salpicados de cintilantes estrelas. Para Paulo não havia dúvidas, o russo queria um combate. E um combate teria. 
As aeronaves ainda seguiam a velocidades relativamente baixas, pelo que o russo decidiu usar as capacidades de manobra impressionantes do seu caça nesse tipo de confrontos. 
Ato contínuo, o Su-33 deixou a asa esquerda pender para baixo e, já a voar de lado, curvou violentamente para trás, desaparecendo do lado esquerdo do Gripen que entretanto descera atrás de si. Incapaz de acreditar nas forças de gravidade a que aquele russo se sujeitara Paulo obrigou-se a agir, ou o bandido ficaria em posição de disparar. Curvou para a direita, inclinando o avião de modo a fazer um arco apertado, numa manobra bem mais suave do que a efetuada pelo seu adversário. Apanhou-o a curvar na sua direção. 
Algo primordial ainda se movia dentro dele, algo tão antigo como o Homem e que sabia ser uma parte integral do seu ser. Era como se fosse um cão de caça a quem o dono soltara a trela, besta arcana aos comandos de uma máquina avançada. Não fora treinado durante tantos anos para acabar os seus dias atrás de uma secretária. Iria mostrar o tipo de homem que realmente era.
Um caçador!
Ignorando as ordens cuspidas por Pires, Paulo lançou-se na direção do Su-33. O russo apercebeu-se da manobra e estabilizou a aeronave, sem, no entanto, deixar de voar de lado. Os dois caças cruzaram-se a quinhentos quilómetros por hora, o rugido dos motores de jacto no seu encalço. Paulo conseguiu prever o que ia suceder a seguir. Não queria entrar num confronto de agilidade com o russo. Embora ambos os aviões estivessem mais ou menos ao mesmo nível o risco era demasiado elevado. E ainda não conseguira perceber o quão bom era aquele adversário ao certo.
 
Gripen - Imagem via Wikimedia Commons

O Gripen estava equipado com dois mísseis de busca térmica AIM-9L, armas mais antigas do que a própria aeronave e de capacidades limitadas. Mas isso era um facto que não o preocupava muito. Queria mesmo era encontrar um ângulo para usar o canhão de 27 milímetros montado sob o nariz. Isso sim seria algo digno de nota!
Puxou a manche de controlo para si e fez o nariz do Gripen subir, lançando o caça na direção das estrelas. Manteve-o assim por uns instantes e depois cortou alguma potência ao motor. O caça caiu para trás, como se fizesse um salto mortal. O nariz pendeu para baixo e agora Paulo caía a pique, de cabeça para baixo. 
Endireitou o avião e procurou o russo. Ele também já endireitara a sua aeronave e voava numa direção perpendicular à sua. Paulo deixou-o passar diante do seu nariz e depois curvou para esquerda. 
Voando agora na direção do Sol nascente Paulo avaliou a sua situação. O Su-33 estava um pouco mais abaixo da sua posição e perfeitamente à sua frente. 
Tinha-o na mira! 
E então lembrou-se de que tinha as armas ativadas. O homem a bordo daquele caça devia estar a suar em bica agora! O indicador de Paulo dançou descuidadamente diante do gatilho. 
Seria tão fácil… 
- Rocha! O que pensa que está a fazer? – A voz de Pires conseguiu finalmente alcançar a consciência de Paulo.
- Estava só a gozar, capitão. 
Subitamente consciente da realidade da situação Paulo deixou a adrenalina escoar-se e levou uma mão ao painel de instrumentos para desligar as armas. Depois afastou-se, deixando o caça russo seguir a sua trajetória. Procurou o outro Gripen, uma forma cinzenta contra o céu cada vez mais claro. Em poucos instantes a sua aeronave estava na sua devida posição atrás do avião do capitão. Entretanto os russos reuniram-se e voaram para longe. 
- Aqueles já não voltam tão depressa! – Paulo sabia que estava acabado, que ia enfrentar a justiça pelo que fizera, mas não conseguia afastar a exaltação do momento. 
- Qual foi a tua ideia? Estás interessado em começar uma guerra ou assim? 
- Não, meu capitão.
- És burro, então? Que raio te passou pela cabeça? 
- Só… Só quero mostrar do que sou capaz. 
- Depois disto quero ver é se vais alguma vez voltar a pilotar um caça da República Portuguesa! Mal cheguemos à base voltas para casa! 
Obviamente que Paulo se sentia desgostoso. Fizera asneira, e fora bem grave. Mas, por uma vez, sentira o verdadeiro combate. E descobrira que, para ele, uma vez não chegaria… 
Fim

Ligação à página do autor, para mais trabalhos, aqui.

Texto: ©Francisco Duarte
Edição: Pássaro de Ferro

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